terça-feira, 8 de setembro de 2009

Os riscos da energia nuclear

A bomba - A energia nuclear esteve, desde o início, intimamente ligada à bomba atômica e às armas nucleares, já que o mesmo princípio é aplicado nos dois casos. Como bem dizia o físico Robert Oppenheimer, diretor do projeto Manhattan, que deu origem à primeira bomba atômica do mundo, “não existe uma energia nuclear para a paz e outra para a guerra, as duas saem da mesma fonte”.

Tanto o reator nuclear (local dentro da usina onde acontece a produção de energia) quanto à bomba atômica têm uma quantidade suficiente de material radioativo para provocar uma reação em cadeia.

O reator nuclear é uma câmara de resfriamento, blindada contra a radiação, onde é controlada esta reação em cadeia. Nele é produzida energia e materiais fissionáveis como o plutônio, utilizados em bombas nucleares. A principal diferença entre uma bomba e um reator nuclear é que, nos reatores, a reação em cadeia é planejada para ser controlada e parar quando necessário. Para isso, uma usina nuclear possui uma série de mecanismos de segurança.

No entanto, esses mecanismos nem sempre funcionam – vide os inúmeros acidentes que já aconteceram com reatores nucleares. É justamente aí que mora o perigo.

A fronteira entre o uso civil e militar da tecnologia nuclear nunca foi clara. O motivo é óbvio: os primeiros reatores nucleares foram construídos com a finalidade específica de produzir plutônio para as bombas americanas. Só depois foram adaptados para gerar eletricidade.

A tecnologia nuclear permite o desenvolvimento de armas nucleares, que podem ser construídas a partir do urânio (o combustível das usinas nucleares) ou do plutônio (presente no lixo nuclear). Vários países que hoje possuem bombas atômicas desenvolveram-nas em paralelo a programas nucleares ‘para fins pacíficos’, como os da Índia e do Paquistão.

Conheça mais sobre a proliferação de armas nucleares no mundo no site doGreenpeace Internacional.

A radiação – É a denominação do que acontece quando há liberação de radiação no meio ambiente. Basicamente, o mesmo aconteceu com a explosão das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki, no Japão, no final da Segunda Guerra Mundial, e com o acidente de Chernobyl, na Ucrânia. Em ambos os casos, os efeitos foram devastadores para a população e para as regiões próximas.

Quando uma pessoa é afetada por uma alta dose de radiação, os primeiros sintomas são náusea, fadiga, vômitos e diarréia, seguidos por hemorragia, inflamação da boca e da garganta e queda de cabelo. Nos casos graves, há um colapso de várias funções vitais, e a vítima pode morrer em duas a quatro semanas.

Outro grande problema da radiação é sua longa vida. Para saber quanto tempo um material radioativo leva para perder a radioatividade, os cientistas calculam sua meia vida – o tempo necessário para a atividade de um elemento radioativo ser reduzida à metade da sua atividade inicial.
A meia vida do urânio-238 é de aproximadamente 5.000.000.000 anos que é a idade calculada da Terra.

Morte e destruição têm acompanhado não só as bombas atômicas, mas também o uso comercial da energia nuclear. Cada cabo que pega fogo, cada cano rompido, pode em questão de minutos transformar uma usina nuclear em um pesadelo atômico.

Além de problemas nos reatores de usinas nucleares, podem ocorrer inúmeros acidentes em fábricas que produzem combustível para reatores, nas minas que desenterram milhões de toneladas de urânio que estavam sob várias camadas geológicas de rocha ou durante o transporte desses materiais. Muitas vezes, o urânio viaja de um continente a outro durante o processo de fabricação do combustível nuclear.

Lixo nuclear –A indústria nuclear gera uma enorme quantidade de lixo radioativo. Nenhum país do mundo encontrou até hoje uma solução satisfatória e definitiva para esse problema. Os defensores da energia nuclear costumam afirmar que a quantidade de dejetos radioativos é muito pequena, o que é mentira. Calcula-se que, no funcionamento normal de uma usina, para cada metro cúbico de lixo altamente, são gerados 240 metros cúbicos de lixo de baixo nível e 16 metros cúbicos de lixo de médio nível radioativo.

A radioatividade do lixo nuclear diminui com o tempo. Cada elemento tem uma meia vida, que é o tempo que demora para a radioatividade cair pela metade. Alguns radioisótopos continuam perigosos por milhões de anos. O lixo radioativo precisa ser armazenado por séculos e isolados do meio ambiente por centenas de milênios e pode ser dividido em 3 níveis radioativos:

Lixo de baixo nível radioativo (Low Level Waste - LLW, na sigla em inglês) – é gerado por hospitais e na indústria e no ciclo do combustível nuclear. Isto inclui papéis, panos, ferramentas, roupas, filtros, etc, que contêm pequenas quantidades de radioatividade e uma meia vida curta.

Lixo de nível radioativo intermediário (Intermediate Level Waste – ILW, na sigla em inglês) - contém quantidades mais altas de radioatividade e, em alguns casos, precisam ser armazenados. Incluem resinas, esgoto químico revestimento de metal do reator e materiais contaminados provenientes do descomissionamento do reator.

Lixo de alto nível radioativo (High level waste – HLW, na sigla em inglês) é produzido a partir dos reatores nucleares. Contém sub produtos da fissão e elementos transuranicos gerados no reator principal. São altamente radioativos e frequentemente quentes.

Os lixos de nível radioativo intermediário e baixo representam 95% do total de radioatividade produzida durante todo o processo de geração de eletricidade pela tecnologia nuclear. A quantidade de HLW está aumentando em 12 mil metros detoneladas por ano, o equivalente a 100 ônibus de dois andares ou a duas quadras de basquete.

A exploração de urânio nas minas também produz enormes quantidades de resíduos, inclusive partículas radioativas que podem contaminar a água e os alimentos. Além disso, no processo de enriquecimento de urânio, são gerados, para cada metro cúbico de dejetos altamente radioativos, mil metros cúbicos de lixo de baixo nível radioativo.

Não existem dados exatos sobre a quantidade de lixo radioativo já produzido até hoje no mundo. Em geral, o público desconhece o perigo associado a esses dejetos e qual é seu destino, mas calcula-se que, anualmente, são acumulados no mundo cerca de 12 mil toneladas de rejeitos radioativos de alta atividade. Na maioria dos países esse lixo é armazenado, de forma provisória, no interior das usinas. A quantidade de rejeitos de baixa e média radioatividade de Angra 1 e 2, por exemplo, é estimada em cerca de 2.500 toneladas. Estes rejeitos encontram-se armazenados de forma provisória em dois galpões. Já os rejeitos de alta radioatividade estão armazenados em piscina e aguardam um depósito permanente.

Nos Estados Unidos, os resíduos altamente radioativos estão depositados em cerca de 120 locais. Há um projeto, chamado de *Yucca Mountain Project*, de acondicionar esse lixo de forma definitiva em um depósito construído a 300 metros abaixo da superfície, em uma formação geológica natural situada a 160 quilômetros de distância de Las Vegas. Esse projeto já consumiu US$ 9 bilhões e revelou-se um tremendo elefante branco – ainda está longe de ser concluído.

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